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O impacto da tecnologia de informação e comunicação nas bibliotecas públicas

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Resumo: A sociedade contemporânea vem sendo marcada por novas formas de acesso e uso de bens culturais a partir da intensificação do uso das tecnologias de informação e comunicação. A biblioteca pública, como uma das mais tradicionais instituições de acesso gratuito à informação e à leitura, passa consequentemente por uma adequação de suas ações visando atender a essa nova demanda da sociedade. O artigo visa abordar novas perspectivas institucionais que representam esforços de adequação a essa demanda. Analisa o movimento da instituição no sentido do fortalecimento das suas relações com a comunidade do seu entorno, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico desta, principalmente a partir do estímulo ao desenvolvimento do capital social, à criatividade e à inovação e às ações da biblioteca voltadas a novos modos de ler.
Palavras chave: Biblioteca Pública – Biblioteca e comunidade – Capital Social – TIC – Bibliotecas Brasileiras.

Fonte: Cuadernos Del Centro De Estudios De Diseño Y Comunicación, (72), 121 a 134. (doi.org/10.18682/cdc.vi72.1116). Los autores/as que publiquen en esta
revista … aceptando el registro de su trabajo bajo una licencia de atribución de Creative Commons.

 

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O impacto da tecnologia de informação e comunicação nas bibliotecas públicas:
envolvimento comunitário, criatividade e inovação
Ana Ligia Medeiros * y Gilda Olinto ** 

(*) Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), Diretora do Centro de Memória e Informação da Fundação Casa de Rui Barbosa (Rio de Janeiro); professora do Mestrado Profissional Memória e Acervo.
(**) Doutora em Comunicação, UFRJ/IBICT; Professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do IBICT/UFRJ.

 

  1. Introdução

As sociedades refletem a evolução da tecnologia e da técnica, o que muitas vezes exige uma adaptação dos costumes, mas poucas vezes provocam uma quebra de paradigma, modificando estruturalmente a forma de pensar e agir da humanidade, como foi a escrita e milênios mais tarde a imprensa. No momento atual, não se pode afirmar a profundidade do impacto das tecnologias da informação na sociedade, mas constata-se que instituições culturais passam por um momento de reflexão e adaptação. As bibliotecas públicas (BP) são instituições basilares que possuem um papel social destacado na guarda e na transmissão de informação e conhecimento, cujo bom funcionamento depende de sua atenção às características e necessidades do contexto social em que se inserem. Com as mudanças da sociedade provocadas com a introdução e generalização das tecnologias de informação e comunicação (TIC), a biblioteca adequa-se aos novos suportes de registro, às novas concepções e necessidades de uso do seu espaço físico e em suas relações com a comunidade a que serve.

Com a intensificação do uso das TIC fala-se em crise da BP e na retração no uso desta como lugar para acesso à informação bibliográfica e de referência mas, paradoxalmente, esta nova realidade tem contribuído para a identificação de novas funções para a biblioteca que valorizam o uso do seu espaço físico. Algumas das funções que estão sendo valorizadas: 1) a biblioteca como lugar da comunidade; 2) a biblioteca como local para criação e inovação. O presente trabalho apresenta inicialmente alguns argumentos para a crise da BP e a seguir fornece subsídios para a compreensão de novas funções para a instituição, o que representaria o seu fortalecimento ou rejuvenescimento, especificamente o foco nas relações das bibliotecas com a comunidade, analisando os movimentos de aproximação e como desdobramento a criação de capital social, e por fim, apontando a tendência da criação de serviços e espaços que estimulem a criatividade e inovação no espaço da BP.

 

  1. A biblioteca pública em crise

O final do século XX foi marcado por diversos fatores que afetaram o trabalho das bibliotecas sendo proposta por muitos sua obsolescência como instituição. Um desses fatores, que tem especial destaque, foi a intensificação dos usos das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Essa nova realidade enfraqueceria a instituição como local de acesso a informações e a leitura, sendo plenamente substituída por ferramentas de busca, como o Google, e pelo acervo digital disponível na internet.

Outro fator que aponta para a crise é de natureza econômica, pois a crise gerada pela falta de recursos se abateu em muitos países, inclusive nos países desenvolvidos. Os cortes de despesas que ameaçam as BP envolvem a redução de pessoal, de atividades, de horário de atendimento ou até mesmo o fechamento de bibliotecas municipais e seus ramais, o que tem ocorrido em diversos países. Entretanto, paradoxalmente, ao lado dessas políticas restritivas forçando o fechamento de instituições, surgem novas grandes bibliotecas com uma oferta cultural variada. Um exemplo nos países desenvolvidos é a grande biblioteca pública de Birmingham e nos países em desenvolvimento as bibliotecas parque de Medelin e, mais recentemente, as bibliotecas parque do Rio de Janeiro.

O terceiro argumento que fortalece a ideia de crise da BP relaciona-se à reflexão de administradores e bibliotecários sobre a dificuldade da instituição em se adaptar à nova realidade, dificuldade essa associada à necessidade de aportes financeiros para tal. Ao analisar a crise das bibliotecas australianas, Waller e McShare (2008) ressaltam a relevância de se levar em conta novas funções institucionais que surgem a reboque da generalização do uso das TIC, exigindo grande aporte de recursos. Para ela, a superação da crise passa pelo entendimento das autoridades da importância estratégica que a biblioteca pode ter assumindo essas novas funções.

As autoras apontam, ainda, para a necessidade de adaptação da BP às novas expectativas do usuário, agora acostumado com a rapidez oferecida pela Internet. Intensifica-se a necessidade de as bibliotecas oferecerem novos serviços, com mais agilidade e eficiência. Um deles é justamente é o de contribuir para o desenvolvimento da competência em informação, de usuários e profissionais, os quais, familiarizando-se com as TIC, podem ampliar as suas atividades e pesquisas no espaço das bibliotecas públicas.

Outro argumento que sugere o declínio das BP é desenvolvido por autores que defendem o investimento alternativo em bibliotecas digitais. Robert Darnton (2010), fundador do programa Gutenberg-e e coordenador do projeto Biblioteca Pública Digital, considera que atualmente o amplo acesso às obras mais importantes da humanidade, é possível a um toque de mouse e, portanto, é nesse tipo de biblioteca que devem ser concentrados parte significativa dos esforços públicos.

 

  1. Envolvimento comunitário e superação da crise

Uma das tendências mais fortes para o fortalecimento institucional, no entanto, é o fortalecimento das relações da biblioteca com a comunidade que é intensificado por visões que parecem tender a propor relações cada vez mais próximas, definindo novas funções e influenciando novas propostas de ações a serem desenvolvidas no espaço da biblioteca. A visão tradicional da relação biblioteca-comunidade considera as duas entidades como separadas, sendo que a boa biblioteca serve à comunidade com os seus diversos serviços e atividades. Nesta visão a biblioteca pode buscar conhecer a comunidade e o seu usuário para atendê-los bem, mas mantem-se como instituição independente com a sua própria dinâmica interna.

Nova visão da relação biblioteca-comunidade, que contribui para o desdobramento das suas funções, é proposta por autores que enfatizam que a BP tem o potencial para ser o canal de “expressão da comunidade”. Dessa perspectiva, cabe à biblioteca organizar e divulgar as informações sobre as manifestações e atividades próprias da comunidade em que ela está incluída. Neste sentido, a preocupação é tanto com o passado quanto com o presente e o futuro das comunidades. Assim, a biblioteca pública cultiva a memória local, criando uma identidade social que possibilita ao cidadão se reconhecer, ao mesmo tempo em que constitui um depositório de informações sobre os artistas, os artesãos, as instituições, as empresas e as manifestações culturais locais.

Cabe ressaltar que o uso das TIC está facilitando o processo de expressão comunitária nas bibliotecas públicas. Exemplos são muitos, podendo-se mencionar, aqui, bibliotecas americanas, que já no início da década 2000, organizaram, digitalizaram e tornaram disponível à comunidade informações sobre a memória coletiva de uma comunidade negra, majoritária no contexto (Durrance; Pettigrew, 2001). Este recurso pode ser visto como um aliado para a integração de grupos marginalizados, conforme indicado pelo Manifesto IFLA/UNESCO1 sobre Internet (2006).

Perspectiva complementar que fortalece, na contemporaneidade, a relação biblioteca-comunidade é a valorização da participação da comunidade,  desenvolvendo uma série de atividades que promovem os laços da biblioteca com os usuários e que a façam conhecida pelos que não a conhecem ou frequentam. Mais intensa ainda na contribuição para a intensificação desta relação é a proposta de que a biblioteca pública, não apenas chama a comunidade para participar de suas ações, mas que pode também contribuir para a dinamização e desenvolvimento comunitário. Para esta visão da relação tem contribuído o uso das TIC, em especial as mídias sociais, que vêm facilitado o uso das bibliotecas públicas para a ação comunitária. Cabe citar, a título de exemplo, a experiência da pesquisa desenvolvida por Bishop e outros (2000), visando a integrar e promover, através do uso das TIC, a participação de grupos marginalizados, em especial mulheres negras. Ressalte-se, neste caso, o papel de algumas mulheres como information brokers para os seus familiares e contatos no uso do computador e no acesso a informações úteis. A biblioteca adere à postura a partir da qual chama a comunidade, identificando, em conjunto com ela, mudanças possíveis nos comportamentos e trabalhando de forma parceira nas ações. Este é um caminho de mão dupla, em que a comunidade recebe e dá informações em benefício da coletividade.

Além desses aspectos acima citados, pode-se acrescentar a perspectiva que aproxima ainda mais a biblioteca da sua comunidade que é a difusão da ideia de que, a biblioteca, não apenas age em conjunto, e contribui para o desenvolvimento da comunidade, mas passa a ser por ela incorporada ou apropriada. A biblioteca não é apenas o elo entre a informação e a comunidade. É a comunidade que, junto com a biblioteca, torna-se a gestora, promotora de atividades e produtora de informações. Assim, a comunidade passa a participar ativamente na definição e a atuação da biblioteca pública. Para Betancur (2002, p. 7), o profissional de biblioteca pública precisa que se “dessacralize a biblioteca pública” uma instituição “em essência da comunidade”, sendo que o bibliotecário deve apenas criar condições para que a comunidade possa “olhar para si mesma”.

A apropriação do espaço da biblioteca pela comunidade foi um aspecto destacado por Amorim em entrevista concedida recentemente. Segundo ele, é necessário que ela se reconheça e se perceba como “dona” da biblioteca pública.

Agora, a outra coisa, por outro lado, e com isso abrir espaço naquela comunidade para que ela se aproprie verdadeiramente da biblioteca. De que maneira? Uma biblioteca faz exposições (e deve) incluir as pessoas nisso, na construção, na mostra do seu próprio trabalho, mostrando e fazendo as pessoas compreenderem que a atitude da leitura gera esse sujeito ativo que também constrói, que também pensa, que também cria, que produz e expõem. ….levando e convidando as pessoas que esses leitores, cidadãos criativos conhecem, se relacionam, enfim, criando maneiras daquela comunidade se perceber como uma das sócias daquela biblioteca, uma das donas daquela biblioteca. Qualquer projeto, qualquer equipamento dá certo quando todo mundo se acha dono, pai e mãe daquilo, porque protege, porque defende, porque tem orgulho. As pessoas precisam vivenciar isso, viver na pele. (Amorim, apud Medeiros, 2015, p. 121)

3.1 A biblioteca pública como promotora da cidadania

A partir dessa progressiva e cada vez mais abrangente visão da relação biblioteca pública com sua comunidade, pode-se considerar alguns temas específicos, como é o caso da ênfase no papel da biblioteca na formação no desenvolvimento da cidadania. O conceito de cidadania reflete a sociedade em que se insere.

Segundo Pinsky “Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço” (Pinsky, 2005, p. 12). Este conceito é abordado por diversos autores sendo que um dos mais clássicos é o do cientista político Marshall (1967) identificando os três elementos básicos que o compões: civil, o político e o social. O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual, liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé. O elemento político abarca o direito de votar e ser votado, por exemplo. Quanto ao elemento social compreende uma série de direitos como o bem-estar social, a segurança, a educação e a “herança social e de levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade” (Marshall, 1967, p. 66). Na atualidade mais um elemento poderia ser acrescentando visando atender a complexidade da sociedade moderna que é o direito à informação, à cultura e à memória (Medeiros, 2009). Esta perspectiva vai ao encontro do que propõe Agnoli (2011): no mundo atual é necessário que o cidadão seja bem informado. Segundo esta autora, não existe uma teoria moderna de democracia que admite um cidadão desinformado e ignorante. Neste sentido, uma biblioteca enriquece o tecido democrático que permite aos cidadãos para obter informações não na solidão de um computador em casa, mas em comparação com outros cidadãos, outros documentos, outros formatos. Estas bibliotecas de incessante trabalho são um lugar necessário (Agnoli, 2011).

Esta ideia é também desenvolvida por Correa. Além de propiciar acesso à cultura, a biblioteca pública, instituição aberta a todos, tem como função básica promover competências para o exercício da cidadania.

A biblioteca pública, pelas suas características únicas, emerge como um espaço de cidadania, na medida em que se configura um espaço profundamente democrático de fruição da cultura, aberta a todos, independente da condição social e do grupo etário. Quanto mais próxima estiver da comunidade que serve, mais probabilidade terá de cativar todos os seus membros, desde tenra idade e ao longo de toda a vida, sem impor uma ruptura com o contexto familiar. Ao mesmo tempo em que propicia a socialização em torno de práticas culturais mais próximas da cultura erudita, a biblioteca pública pode ainda desempenhar um papel importante no desenvolvimento das competências indispensáveis à plena participação de todos os cidadãos na sociedade. (Correia, 2010, p. 13)

Outro ponto é que o aspecto universal de atendimento a todos pode contribuir para a inclusão do cidadão, tanto pelo aspecto social quanto digital. A biblioteca pública é um lugar de todos, sem nenhum tipo de restrição, independente da origem social, identidades étnicas, culturais ou educacionais, faixa etária ou opções religiosas ou sexuais. Além disso, determinados grupos podem dedicar-se a dar um tratamento diferenciado a segmentos específicos da comunidade, como as crianças, os idosos, os desempregados, os marginalizados, e todos que necessitem algum tipo de atenção especial.

Este preceito está bem definido nas Diretrizes para o Manifesto IFLA/UNESCO sobre Internet, 2006:

Acesso igualitário à informação significa que os recursos de informação podem ser acessados por todas as pessoas da comunidade servida por uma biblioteca, sem restrições de origem, idade, experiência ou pontos de vista. Deve-se dar atenção especial aos marginalizados, desempregados, desfavorecidos, privados de direitos, crianças, idosos, incapazes, indígenas e os que têm necessidades especiais. Os custos de acesso à informação devem ser justos e equitativos, e as necessidades de todos os usuários devem ser atendidas. O acesso igualitário à informação é facilitado por um enfoque voltado para os usuários, livre de barreiras e independente de formatos. (IFLA, 2006, pp. 31-32)

Como exemplo da prática de formação de cidadania nas bibliotecas, pode-se citar o exemplo de Seattle, no estado de Washington. Esta cidade vem recebendo grande número de imigrantes, em especial asiáticos. A biblioteca pública, então, oferece informações sobre procedimentos básicos da cultura norte-americana para que estes imigrantes se insiram na sociedade, e, paralelamente, desenvolve atividades relacionadas à valorização de sua cultura de origem.

A concepção de cidadania vai, porém, muito além de serviços prestados voltados para a formação do cidadão, envolve também a ideia de formação do cidadão crítico, capaz de distinguir uma série de indícios sobre sua realidade, fato que é facilitado pelo amadurecimento intelectual através da leitura e do conhecimento, ideia já formulada pelo intelectual brasileiro Mário de Andrade, considerado um pioneiro nas políticas culturais do Brasil.

A criação de bibliotecas populares me parece uma das atividades mais necessárias atualmente para o desenvolvimento da cultura brasileira. Não que essas bibliotecas venham a resolver qualquer dos dolorosos problemas da nossa cultura, o da alfabetização, por exemplo. Mas a disseminação, no povo, do hábito de ler, se bem orientada, criará fatalmente uma população urbana mais esclarecida, mais capaz de vontade própria, menos indiferente à vida nacional. Será talvez esse um passo agigantado para a estabilização de uma entidade racial, que, coitada! acha-se desprovida de outras forças de unificação. (Andrade, 1957, p. 7)

 

3.2 Biblioteca como lugar

A produção do grupo de pesquisa norueguês PLACE (Public Libraries – Arenas for Citizenship) durante os anos de 2007 e 2012, e que teve como objetivo pesquisar as bibliotecas públicas como um lugar de encontro no contexto digital e multicultural, é um exemplo da possibilidade de entender a biblioteca como lugar. Este grupo norueguês, formado por Svanhild Aabo, Andreas Varheim, e Ragnar Andreas Audunson, entre outros, produziu mais de três dezenas de trabalhos sobre o tema. O título do projeto, “Place”, indica a importância que os pesquisadores dão ao “lugar”. Entende-se por “Place” não apenas a construção e os equipamentos, mas os serviços e atividades que faz da biblioteca o lugar de encontro da comunidade. Entre os objetivos deste projeto encontra-se: “[…]a biblioteca é compreendida como um local de encontro, no sentido habermasiano, visto como uma arena para comunicar sem censura, como um lugar de encontro que previne do isolamento social e promove a identidade local, história e cultura” (Audunson, 2005, p. 430). A biblioteca como espaço/arena de comunicação e troca, remete ao conceito de esfera pública de Habermas. Nesta direção, há diversos estudos sobre o tema que surgem, principalmente, como uma resposta ao avanço capitalista em direção à privatização dos espaços públicos. As ruas, as praças e os jardins estão sendo substituídos pelas esferas pseudo-públicas como os shoppings centers, que, sendo espaços abertos ao público, não têm como característica a interação social. Esses espaços não podem ser considerados como esfera pública, sob a ótica de Habermas, pois os shoppings centers do mundo capitalista possuem finalidades econômicas, excluindo a pessoas que “não consomem”, isto é, a população mais pobre. Nesse sentido, as bibliotecas públicas representam um espaço público onde não há restrição de qualquer ordem para seu uso, além de estimular o contato entre pessoas e grupos. Segundo Gaus e Weech: “À medida que a esfera pública lentamente desaparece da sociedade sendo substituída por esferas pseudo-públicas, torna-se cada vez mais importante para a biblioteca afirmar-se dentro de sua comunidade, como um espaço aberto, onde todos são bem-vindos” (Gaus; Weech, 2008, p. 226).

Há diversos estudos baseados na teoria de Habermas aplicados a comunidades e a bibliotecas públicas, vistas como o lugar ideal para a promoção de intercâmbio de ideias e comportamentos. Esta perspectiva tem respaldo na própria história institucional com ênfase no acesso livre e igualitário da instituição.

Outra influência decisiva na ideia de que a biblioteca pública é um lugar da comunidade, ou que promove a comunidade, vem da teoria do capital social utilizada por estes e outros autores para estudar e propor ações para a biblioteca pública. Segundo os cientistas sociais que propuseram e utilizaram o conceito, como Putnam (1995) e Bourdieu (1985), o capital social são laços que se desenvolvem entre indivíduos e grupos, os quais promovem as suas chances de vida e também o seu espírito cívico e a sua comunidade. Putnam especifica uma característica do capital social que é a de “estender pontes” entre grupos com características e interesses diversificados, contribuindo para a resolução de conflitos e a promoção da integração da comunidade.

Aplicando o uso do conceito de capital social a bibliotecas públicas, os autores acima citados (Aabo; Audunson; Varheim, 2010) enfatizam que essa instituição pode contribuir para “estende pontes” na comunidade contemporânea, promovendo a tolerância e o respeito à diversidade. Em decorrência dessa ênfase, destacam que a biblioteca pública tende a ser vista como um lugar seguro, possibilitando seu uso como espaço para encontros da comunidade, inclusive de grupos de interesses diferentes, corroborando assim para o capital social inclusivo da comunidade.

A ênfase da biblioteca pública como promotora de capital social e lugar da comunidade é também tema da pesquisa pioneira, coordenada por Cox (2000), tendo como objetivo identificar a diversidade e a interação dos grupos sociais no espaço da biblioteca pública. Esta pesquisa fez parte de um projeto maior que visava a identificar a presença e a valorização do capital social na sociedade australiana. O resultado comprovou o aspecto inclusivo da biblioteca pública, sendo considerada pelos entrevistados como “um lugar de todos”. Outra autora australiana, Candy Hillenbrand, também dedicou-se ao tema sob o aspecto do sentimento de segurança que as bibliotecas transmitem aos usuários, e mesmo aos não usuários da instituição, ou seja, à comunidade em geral. A autora identifica o potencial da biblioteca como um lugar para se conhecer pessoas, fazer conexões e se comunicar, sendo a conversa com a equipe da biblioteca um dos destaques. Ressalta, porém, que os usuários ainda utilizam a instituição em busca de atividades básicas tradicionais (como empréstimo de livros) e pouco para as não tão básicas (espaços comunitários, por exemplo).

Gong, Japson e Chen (2008) pesquisaram as relações estruturais e espaciais do capital social, a partir de três bibliotecas de Nova York, constatando que bairros com maior índice de capital social eram os bairros de maior utilização das bibliotecas. Diversos outros autores trabalham com este tema em diversos países conforme as experiências relatadas na pesquisa de Olinto e Medeiros (2013).

No Brasil, se encontram poucos trabalhos sobre as relações de capital social e biblioteca pública. Maciel Filho e outros (2010) elaboram uma revisão do conceito de capital social e sua aplicação em bibliotecas. Os autores apresentam um breve panorama sobre o conceito e sua aplicação em pesquisas empíricas. Apresentam, também, os resultados da pesquisa sobre o potencial das bibliotecas públicas municipais em Pernambuco como geradora de capital social, entre os anos de 1998 e 2007, constatando que as bibliotecas públicas desenvolviam, prioritariamente, atividades tradicionais.

Cabe ainda citar as pesquisas de Olinto e Medeiros (2012 e 2013). Na primeira pesquisa, estudaram a capacidade das bibliotecas públicas estaduais brasileiras na criação de capital social nas comunidades. O estudo utilizou os dois tipos de capital indicado por Putnam (2000, p. 22), estreitar laços (bonding) e estender pontes (bridging), com foco nas atividades desenvolvidas pelas bibliotecas estaduais. Na pesquisa de 2013 fazem a análise do uso e as perspectivas de utilização do conceito de capital social nas bibliotecas públicas.

A tese de doutoramento de Medeiros (2015) também focaliza o tema do capital social. Um dos seus entrevistados, que discorre sobre a crise e as perspectivas da biblioteca pública, assim como da sua relação com a comunidade, destaca que o sentimento de confiança, uma dimensão do capital social, é também uma das características básicas da ideia de comunidade:

Você aprende naquilo que a comunidade lhe diz e você confia nela, senão você não aprende: […] Eu acho que a maior pedagogia do mundo nesse sentido é a pedagogia do jogo da capoeira, tal como eu conheci na Bahia. […] é o mestre que assiste você aprender. Cria as condições para você aprender e assim você aprende. A comunidade é esse mestre, esse grande mestre. (Sodré, apud Medeiros, 2015, p. 122)

 

3.3 Biblioteca pública como espaço para criação e inovação

Uma outra tendência da atuação da biblioteca pública é o fortalecimento de seu papel nas políticas cultural, social e econômica, estimulando o processo criativo e de inovação. Segundo o Manifesto da Unesco/IFLA para Bibliotecas Públicas (1994), a educação permanente e a auto-educação possibilita aos indivíduos, em especial aos jovens, se formarem ou se aprimorarem em seus estudos sejam eles complementares à educação formal ou de cunho autodidata.

Um dos espaços que vem se fortalecendo nas bibliotecas públicas é o chamado makerspace. Estes espaços representam a tentativa de responder às novas demandas da sociedade transformando-se em um lugar também de fazer, mas fazer sedimentado no conhecimento anteriormente produzido em livros e outros documentos; estes lugares são chamados de makerspace.

Pode-se definir makerspace, segundo Britton (2012, p. 1), como “um espaço de produção, lugar onde as pessoas se reúnem para criar e colaborar, compartilhar recursos, conhecimento e coisas”. E complementa a afirmação interrogando: “Esta definição soa estranhamente familiar, não é? Isso me lembra de . . .a biblioteca pública”.

Colegrove (2017) faz um paralelo com a Biblioteca de Alexandria, biblioteca mítica que funcionou do século III a.C até 642 d.C., pois oferece uma biblioteca e as condições físicas e tecnológicas para a concretização de pesquisas, facilitando o contato entre pessoas e tendo como finalidade o desenvolvimento de novas ideias. A Biblioteca de Alexandria congregava o maior acervo da antiguidade em um espaço utilizado pelos sábios para discussões, troca de ideias e elaboração de novos conhecimentos. Neste sentido, as bibliotecas devem desenvolver atividades já tradicionais agregando outras possíveis, com o uso da tecnologia, que possibilitem o processo de aprendizagem e criação de novos conhecimentos, a partir do oferecimento de condições físicas e tecnológicas. As áreas das ciências aplicadas e das artes, incluindo o design, são por natureza afeitas a elaboração de protótipos, mas também a área da literatura pode se beneficiar com a produção de textos e o desenvolvimento do processo de edição coletiva. Segundo Colegrove, a biblioteca é o “hub natural no processo de aprendizagem e criação de um novo conhecimento” (Colegrove, 2017, p. 6). As bibliotecas devem ser repensadas visando adequar-se a uma nova demanda, sem, no entanto, deixar suas funções tradicionais. O professor da Universidade de Siracusa, R. David Lankes, considera que “Bibliotecas ruins compilam coleções, bibliotecas boas oferecem serviços, mas as bibliotecas excelentes constroem comunidades”. Para ele as bibliotecas devem ultrapassar o foco nas coleções, para chegar ao foco nas “comunidades”. Segundo o autor (Lankes, 2012, p. 1) a missão do bibliotecário é “melhorar a sociedade através da criação de conhecimento na sua Comunidade”.

 

3.4 Biblioteca, comunidade e leitura

Os efeitos da TIC podem ser considerados positivos na área mais tradicional das bibliotecas que é a leitura. Tradicionalmente, as bibliotecas públicas já desenvolvem uma série de atividades de leitura em grupo como a hora do conto, o encontro com leitores, as leituras dramatizadas entre outras. Neste sentido, as TIC podem tornar-se parceiras na divulgação das atividades, como o compartilhamento de textos a serem discutidos nas reuniões presenciais ou à distância.

É, também, um ótimo canal de edição e divulgação de novos escritores, incentivando talentos e criando memória local, por meio da publicação de e-books e periódicos eletrônicos. Assim, possibilita um arejamento nas publicações de editoras tradicionais normalmente fechadas a escritores desconhecidos.

Outra ação que liga à leitura a comunidade volta-se para a alfabetização, possível a partir de uma série de atividades desenvolvidas, tanto para a educação formal quanto a informal, incentivando à leitura prazerosa. Pode, ainda, estimular a cooptação dos familiares a partir do conhecimento pelos alunos das possibilidades que as bibliotecas oferecem como um lugar seguro, gratuito e compartilhando pesquisas e leitura.

A visão de biblioteca pública como espaço compartilhado de leitura pode ser vista em depoimentos da tese de Medeiros (2015), ressaltando a perspectiva como um ponto de encontro, onde os leitores conversam sobre livros, tomam um café, conhecem pessoas novas. Segundo um dos depoentes, este é o entendimento de pensadores que têm uma visão atualizada da biblioteca pública, e entre as motivações para os encontros na biblioteca ele veria a troca de experiências sobre a leitura.

Eles esperam que esse seja o lugar onde as pessoas se encontram onde as pessoas vão e conversam; onde as pessoas dispõem de clube de leitura para falar do livro que leu; onde as pessoas vão tomar um café e encontrar pessoas e conhecer pessoas novas; onde vão paquerar, namorar; vão levar e [compartilhar] o resultado daquilo que é uma pratica intimista e solitária que é a leitura, mas em algum momento que elas precisam repartir, compartilhar… (Amorim, apud Medeiros, 2015, p. 97)

A valorização da biblioteca como lugar de encontro em torno da atividade de leitura pode representar também uma alternativa à perda da função da biblioteca como uma instituição dedicada somente ao serviço de empréstimo de publicações, por exemplo.

Na verdade, cada vez mais eu penso que as bibliotecas de acesso público têm um papel de grande ponto de encontro e de trocas. Se a gente pensar e olhar para o futuro, no momento em que se tem a biblioteca digital de empréstimo de e-book, você pode olhar e temer que a biblioteca pública não tenha mais papel, não tenha mais espaço na nova sociedade. Se você entender a biblioteca como um serviço exclusivo de oferecer um produto e um serviço, um toma lá dá cá, essa preocupação pode realmente se concretizar. (Amorim, apud Medeiros, 2015, p. 97)

Amorim também expressa opinião semelhante, considerando a biblioteca pública como promotora de encontros numa sociedade em que o virtual tende a predominar. A biblioteca parque seria uma opção para a promoção do encontro:

Qual que é o espaço da sociedade em que [o encontro] acontece? É a biblioteca esse espaço, por isso que esse conceito de parque vem em um momento em que a biblioteca precisa repensar o seu papel, e esse é o papel do encontro, o parque agrega tudo isso, a essa função nova de uma biblioteca. (Amorim, apud Medeiros, 2015, p. 98)

  1. Conclusão

O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas bibliotecas representa não o algoz, como preconizavam alguns, mas uma parceria que possibilitou o estreitamento das relações com a comunidade. Para tal, a biblioteca precisa adequar-se a uma nova realidade com a releitura de suas funções tradicionais e a incorporação de novas atividades que surgiram.

Porém, esta nova realidade tem como foco a comunidade e seu desenvolvimento cultural, social, político e econômico. A comunidade passa a percebe-la como um local seguro, gratuito e democrático que acompanhará os seus membros durante sua vida. A pesquisa e as ações visando o fortalecimento das relações biblioteca-comunidade incorpora conceitos como o de capital social que lança novos olhares a esse campo de estudo e de intervenção social.

Um papel cada vez mais presente é o estímulo à criatividade e à inovação. As bibliotecas complementam seus acervos com laboratórios que possibilitam desenvolver, em comunidade, protótipos que consolidam conhecimento, valendo-se dos recursos disponíveis nas bibliotecas. Este é o caso, por exemplo, do design que pode contar com os instrumentos que viabilizem produtos, baseados no conhecimento consolidado em livros e periódicos. Por fim, constata-se que apesar da ampliação de ofertas de serviços e atividades, a leitura é o ponto principal para o desenvolvimento do indivíduo e da comunidade e que as tecnologias de informação e comunicação abriram novas perspectivas de atuação das bibliotecas públicas.

 

Notas

1. The International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA).

Referências

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Agradecimento: Agradecemos ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) por apoio a projeto de pesquisa.

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